Faz parte do senso comum que ser criativo é ter um dom. Não sei ao certo a origem dessa ideia, mas tenho certeza que a criatividade não funciona dessa forma.
Talvez as pessoas se percam nesse argumento para justificar falta de estudo e prática.
Mas, para não ser injusto, realmente existem “modelos mentais” privilegiados com criatividade.
Pessoas que parecem ser criativas desde sempre, estão sempre curiosas, observadoras e buscando novas experiências.
Mas acredito que se compreendermos o mecanismo das ideias, fica mais simples buscar formas de estimular a criatividade.
Assim como algumas pessoas possuem naturalmente uma “barriga chapada”, existem outras que precisam fazer exercícios para conquistá-la. E tá tudo bem!
O “X” da questão é encontrar estratégias para alcançar seu objetivo.
Crianças e criatividade
Acredito que toda criança é criativa. O mundo é novo para ela e explorar é o caminho mais natural. E elas fazem isso das formas mais diversas: pegando, colocando na boca, jogando no chão, etc.
Mas acontece que com o passar do tempo essa criatividade é minada. Adultos insistem em silenciar crianças que perguntam demais, exploram demais, criam demais.
De onde vim existe uma expressão para uma criança muito exploradora: você é um artista! Mas isso sempre vinha temperado de um tom pejorativo.
O grande desafio dos adultos, principalmente em profissões criativas, é “encontrar” essa criatividade novamente.
Se você é publicitário, designer ou ilustrador, com certeza já ouviu sobre sua criatividade de muitas pessoas.
A parte ruim é que esses comentários ressaltam o pensamento do senso comum sobre ser criativo.
- “Esse meu filho tem o dom de ser criativo.”
- “O talento da criatividade é para poucos.”
- “Eu não nasci tão criativo quanto você.”
“Éricles, mas qual o problema de falar isso?”
Segundo o livro Mindset, de Carol Dweck, entender habilidades como dons e talentos inatos é andar na contramão da melhoria contínua.
Pensa comigo: Se você já nasceu bom, para quê se esforçar em ser melhor?
Ou, se você não nasceu com o “dom”, pra quê buscar uma nova habilidade?
É um pensamento limitante que rodeia nossas afirmações e lógicas, e nos priva de expandir habilidades através de estratégias tangíveis e trabalho duro.
“Mas isso se aplica também à criatividade?”
Sim!
Mas antes de falar sobre como exercitar a criatividade, quero falar de onde vêm as ideias.
De onde vêm as ideias
Nada é original. Nada vem do nada.
Tudo no mundo possui uma tendência de copiar uma ou mais referências.
Começamos a criar a partir de modelos da natureza.
A natureza é a maior inspiração para muitas pessoas, pois temos formatos e texturas que passaram pelo teste de milhões de anos de evolução.
E se nada é original, as novas ideias são fruto de um “mashup” de ideias já existentes.
Entende-se que cada pessoa é a soma das suas influências, e seu trabalho é um reflexo do autor, isto é, o seu trabalho é um reflexo das suas influências.
O que você assiste, ouve e vê possui impacto muito importante no seu arcabouço criativo.
Em outras palavras, a criatividade não é uma habilidade em si, mas um subproduto de outras habilidades.
Alguns parágrafos acima eu falei sobre pessoas que estão sempre curiosas e observadoras.
Cada vez que você se abre à novas experiências é uma forma de somar ao seu repertório criativo.
O que distinguimos é o que será útil e o que não será útil para a produção criativa.
Imagine que você é um andarilho e coleta coisas no caminho para usar em algum momento.
Essas coisas são elementos que compõem o seu repertório, influências que poderão ser usadas na execução de projetos criativos.
Mas segundo Austin Kleon, autor do livro Roube Como um Artista, precisamos ser colecionadores seletivos, isto é, saber o que nos servirá como matéria-prima.
Como copiar da maneira certa
Tudo o que precisa ser dito já foi dito. Mas já que ninguém estava ouvindo, é preciso dizer outra vez. – André Gide
O exercício mais simples e óbvio para estimular a criatividade é copiando. Ninguém é 100% original.
Pense de novo em uma criança. Ela aprende a falar através de repetições, uma espécie de shadowing.
Isso a ajuda a entender a dinâmica da língua e qual combinação de fonemas ajuda a se comunicar adequadamente.
Vamos agir como crianças e copiar trabalhos que nos inspiram.
Mas a ideia desse exercício não é copiar apenas por copiar ou fazer com que o trabalho do outro se passe pelo seu. A ideia central desse exercício é engenharia reversa.
Lembro de um episódio de Phineas e Ferb “o que essa coisa faz”, onde a dupla desconstrói um robô que caiu no seu quintal para entender a funcionalidade.
Na área criativa a função pode ser a mesma. Talvez não necessariamente para entender a função, mas compreender pormenores de decisão.
“Tal projeto usa essas cores que se relacionam de tal forma no círculo cromático”
“A diferença entre o tamanho do título para o parágrafo é x e isso é agradável para mim”
Escolha alguns trabalho e refaça. Tenho certeza que terá novas ideias para seus próximos projetos.
Conclusão
Para finalizar, recomendo que visite os seguintes sites ter acesso a trabalhos criativos: